"Ilha das Flores", de Jorge Furtado, encontra-se no YouTube:
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=Zfo4Uyf5sgg
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=6IrGibVoBME
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=3NddTNoDvm8
A Ilha das Flores, que intitula o curta-metragem de Jorge Furtado, é um local na cidade de Porto Alegre aproveitado como depósito para o lixo. Embora seja o assunto central do filme, o lugar aparece somente quando os instantes finais se aproximam e, antes disso, observa-se a trajetória de um tomate desde a colheita ao descarte por uma dona-de-casa, até que chega ao lixão da ilha, numa dinâmica que escancara, com várias retomadas e em detalhes, o processo de geração de riquezas numa sociedade de consumo, com enfoque particular nas desigualdades desse sistema.
Apesar do enfoque, convém ressaltar que são usados alguns (e bons) recursos para manter um teor de impessoalidade do texto. Um desses recursos é o modo de narrar do ator Paulo José, sem grandes variações no tom de voz, sem exprimir qualquer emoção. O texto é trazido de forma meramente expositiva, com um ar quase enciclopédico, sem argumentações explícitas por conjunções ou outros elementos de co-texto, sem metáforas. Desta forma, trata-se com a mesma naturalidade e gelidez a definição de "humano" e um acidente nuclear. Em contraste com a aparente frieza, em vários momentos são exibidas imagens chocantes, como a do porco abatido, dos judeus vítimas do holocausto nazista e das crianças disputando alimentos entre o lixo que sequer servia de alimento para os porcos.
Há, contudo, várias nuances de humor no decorrer das cenas. Ao mencionar a proibição católica ao lucro na Idade Média, por exemplo, religiosos figuram com expressões fechadas numa pintura; posteriormente, porém, as mesmas figuras sofrem uma manipulação e aparecem sorrindo, imagem que coincide com a explicação acerca do lucro livre. Outro momento, — senão cômico, ao menos inusitado, — é a aparição de uma garrafa de Coca-Cola numa pintura egípcia antiga, no momento em que se diz que "tudo sob e sobre a face da Terra tem valor de troca por dinheiro". Com efeito, a própria cadência repetitiva e dicionarística da narração confere um tom irônico à obra, de certa forma.
Com esses recortes, o filme não apenas aponta as calamidades que ocorrem na Ilha das Flores, mas também as estendem ao Brasil, o que já é sugerido desde o início com a execução da protofonia de "O Guarani", do maestro Carlos Gomes, tema da Voz do Brasil, o programa de rádio governamental que contempla os ocorridos da — diga-se de passagem, vergonhosa — política nacional. De fato, a mesma música anteriormente mencionada, quando distorcida ao som da guitarra, remete de certa forma a Jimmy Hendrix em Woodstock, e estende o protesto ao mundo inteiro, como numa denúncia das misérias que assolam a humanidade.
O curta termina então como uma manifestação velada contra as políticas que há tempos conduzem populações aos lixões, que põem seres humanos abaixo de porcos. Termina em desabafo, com um discurso sobre liberdade, "palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda".
Com meus redundantes agradecimentos ao Professor Luís Carlos,
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=Zfo4Uyf5sgg
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=6IrGibVoBME
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=3NddTNoDvm8
A Ilha das Flores, que intitula o curta-metragem de Jorge Furtado, é um local na cidade de Porto Alegre aproveitado como depósito para o lixo. Embora seja o assunto central do filme, o lugar aparece somente quando os instantes finais se aproximam e, antes disso, observa-se a trajetória de um tomate desde a colheita ao descarte por uma dona-de-casa, até que chega ao lixão da ilha, numa dinâmica que escancara, com várias retomadas e em detalhes, o processo de geração de riquezas numa sociedade de consumo, com enfoque particular nas desigualdades desse sistema.
Apesar do enfoque, convém ressaltar que são usados alguns (e bons) recursos para manter um teor de impessoalidade do texto. Um desses recursos é o modo de narrar do ator Paulo José, sem grandes variações no tom de voz, sem exprimir qualquer emoção. O texto é trazido de forma meramente expositiva, com um ar quase enciclopédico, sem argumentações explícitas por conjunções ou outros elementos de co-texto, sem metáforas. Desta forma, trata-se com a mesma naturalidade e gelidez a definição de "humano" e um acidente nuclear. Em contraste com a aparente frieza, em vários momentos são exibidas imagens chocantes, como a do porco abatido, dos judeus vítimas do holocausto nazista e das crianças disputando alimentos entre o lixo que sequer servia de alimento para os porcos.
Há, contudo, várias nuances de humor no decorrer das cenas. Ao mencionar a proibição católica ao lucro na Idade Média, por exemplo, religiosos figuram com expressões fechadas numa pintura; posteriormente, porém, as mesmas figuras sofrem uma manipulação e aparecem sorrindo, imagem que coincide com a explicação acerca do lucro livre. Outro momento, — senão cômico, ao menos inusitado, — é a aparição de uma garrafa de Coca-Cola numa pintura egípcia antiga, no momento em que se diz que "tudo sob e sobre a face da Terra tem valor de troca por dinheiro". Com efeito, a própria cadência repetitiva e dicionarística da narração confere um tom irônico à obra, de certa forma.
Com esses recortes, o filme não apenas aponta as calamidades que ocorrem na Ilha das Flores, mas também as estendem ao Brasil, o que já é sugerido desde o início com a execução da protofonia de "O Guarani", do maestro Carlos Gomes, tema da Voz do Brasil, o programa de rádio governamental que contempla os ocorridos da — diga-se de passagem, vergonhosa — política nacional. De fato, a mesma música anteriormente mencionada, quando distorcida ao som da guitarra, remete de certa forma a Jimmy Hendrix em Woodstock, e estende o protesto ao mundo inteiro, como numa denúncia das misérias que assolam a humanidade.
O curta termina então como uma manifestação velada contra as políticas que há tempos conduzem populações aos lixões, que põem seres humanos abaixo de porcos. Termina em desabafo, com um discurso sobre liberdade, "palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda".
Com meus redundantes agradecimentos ao Professor Luís Carlos,
idealizador dessa idéia, disseminador dessa semente.
31 comentários:
gostaaria que alguem me respondesse umas perguntas sobre este fiilme
-onde poderiamos idenficar a desigualdade? Isto é, em que cena isso fica mais explicito ?
uma dona de casa joga tomates fora. parte desse lixo alimenta porcos, a sobra é disputada por pessoas famintas. já serve como exemplo, não?
de qualquer forma, assim que tiver um tempo eu revejo o filme e te dou uma resposta mais legal.
deixe seu e-mail se quiser.
Gostaria de saber como trabalhar o CONTROLE SOCIAL atraves deste filme em que cena ..
Assisti ao documentário e é impressionante sua atualidade.
É um bom instrumento para discutirmos aonde vamos parar se continuarmos no atual sistema de produção que desvaloriza totalmente o HUMANO...
pra mim esse filme só me fez vê como que o mundo cada vez mais só faz piorar!! Da colheita de um tomate até ele ser jogado fora por uma dona de casa, e chegando no lichão ele serve de alimentos para porcos e muitas pessoas disputam por esse alimento. Essa desigualdade é uma vergonha para nosso país....
pra mim esse filme só me fez vê como que o mundo cada vez mais só faz piorar!! Da colheita de um tomate até ele ser jogado fora por uma dona de casa, e chegando no lichão ele serve de alimentos para porcos e muitas pessoas disputam por esse alimento. Essa desigualdade é uma vergonha para nosso país....
Sou aluna do 1º ano de Direito na Ufms, e tive contato com esse documentário através de um professor de psicologia!
E me atrevo a dizer que a impressão que o filme quer nos causar, depende que descartemos uma de suas premissas mais importantes: o materialismo. Para nos sensibilizarmos com os humanos que comem lixo, precisamos ter um entendimento do "humano" superior ao entendimento materialista. Na cultura judaico-cristã isso se chama "imagem e semelhança de Deus", o que contraria também o pequeno corolário colocado no início do filme "Deus não existe".
Olá, Sou estudante do 3º periodo de Jornalismo, e agradeço ao meu professor de Ciência POlítica(paulo Rios)por ter me apresentado a esse filme, que diga-se de passagem é muito interessante e me fez despertar bastante para os detalhes que envolvem o contexto. Queria parabenizar a você Daniel pela análise inteligente sobre o filme, que nos mostra além de exemplos de desigualdade o valor que é dado a cada um relacionado a um mesmo objeto e também a maneira que o homem utiliza sua inteligencia e liberdade...
Abraços...
Olá, sou estudante do 3º periodo de JOrnalismo, SLZ-MA. Conheci o Filme Ilha das Flores artavés do meu professor de Ciencia Politica (Paulo rios). Adorei o filme, é bastante interessante, pois aborda uma questao de maneira inteligente e detalhista. É bem abordado o tema desigualdade e o uso da capacidade e inteligencia dos seres humanos.
Eles utilizam da maneira que querem, será que utilizam sua liberdade com racionalidade?
Abraços, e parabéns Daniel, seu texto está ótimo...
*Daniel, boa tarde !!! *
Quero te agradecer pela tua
"Análise do filme Ilha das
Flores !!! (*Você me ajudou
bastante !!!).
*Ótimo final de semana !!!
*Um abraço.
Análise maravilhosa! Era exatamente o que eu estava procurando. Vai me ajudar aprofundar um certo debate no meu trabalho.
Obrigada moço.
Um abraço.
Depois dessa, estou me tornando sua seguidora. rss
Daniel Andrade, muito boa sua análise, sou professor de História, ja tinha vista este vídeo na época da graduação, hoje leciono no Ensino Médio, e atualmente faço pós-graduação e em um dos módulos assisti de novo este documentário, e tenho como trabalho fazer uma análise comparativa com o "Povoado dos moinhos", e fazendo uma pesquisa encontrei este Blog, que por sinal é muito bom, bom conteúdo e inteligente, parabéns.
Daniel Andrade, muito boa sua análise, sou professor de História, ja tinha vista este vídeo na época da graduação, hoje leciono no Ensino Médio, e atualmente faço pós-graduação e em um dos módulos assisti de novo este documentário, e tenho como trabalho fazer uma análise comparativa com o "Povoado dos moinhos", e fazendo uma pesquisa encontrei este Blog, que por sinal é muito bom, bom conteúdo e inteligente, parabéns.
Fico feliz ao saber que, mesmo abandonado, o blog vem tendo serventia para algumas pessoas.
Obrigado pelas visitas, comentários e elogios! Estou convencido de que o blog continua vivo, graças a vocês, leitores.
Só fica uma pergunta. Por que abandonar algo tão inteligente, que tem contribuido muito para o ampliar o conhecimento de todos nós? No meio de tantos blogs fúteis e de conteúdos duvidosos, o que é bom tem que continuar, um abraço.
Gostei muito da sua análise, da atenção dada aos detalhes. Parabéns.
oi sou estudante do técnico em sobre este filme comercio exterior e gostaria de saber relatar fatos economicos
Ola , sou um menino de 12 anos chamado Lukas , assisti o filme todo 4 vezes achei muito interessante mais estou com uma duvida sobre o filme pois estou com um trabalho valendo 9pontos de geografia sobre este filme para o dia 12/04/12 , consegui responder todas as questões mas estou com uma duvida grande pois o traballho tem 55 perguntas sobre o Documentario mas a questão N°3 tem uma questão com a esta pergunta :
- Por que o filme cita os judeus como exemplos de seres humanos ?
Não entendi , na verdade da vontade e de escreve assim :
- Não sou o diretor , estou sem credito quando tiver ligo para ele .. hahah
mas então por favor quando poder responde estou sempre acompanhado o seu blog abraços .
Lukas
Lukas, os judeus são seres humanos. No entanto, em determinadas épocas da história da humanidade, foram tratados como inferiores (repare nas imagens dos judeus). Ora, os judeus também são humanos, mas nem todo ser humano vive nas condições em que os judeus viveram.
No meu entender, a intenção do filme, ao mostrar cenas chocantes como as dos judeus mortos amontoados como lixo, provavelmente é questionar o porquê das desigualdades.
Espero que isso te ajude!
Gostei da sua análise. Você apontou coisas q eu nem tinha reparado. Só discordo qndo vc diz q o filme faz uma crítica a "política". Na verdade, seu tom é mto mais contra o sistema liberalista/capitalista. Isso é evidente.
Li todos os comentários acima e percebi que, até uma criança conseguiu entender alguma coisa das mensagens que o Jorge Furtado pretendeu passar. Todo o documentário é chocante, pois coloca o telespectador diante de uma imensa ferida brasileira: a da desigualdade social, que leva parte de nossos irmãos brasileiros se alimentarem do lixo. O que compete a nós depois de assistir a tudo isso é se perguntar: O que estou fazendo para resolver isso? Ou melhor, o que fiz até agora para ajudar os meus semelhantes? E não estou me referindo a esmolas e campanhas de caridade. Falo do nosso esforço diário de ajudar o empregado, a empregada, seus familiares, os parentes, que não pedem por vergonha, mas passam dificuldades para vestir os filhos, para alimentá-los decentemente. Falo das frutas que caem nos pomares, enquanto crianças vasculham lixeiras à procura de mangas e laranjas... É tão fácil e gratificante alegrar uma criança. E todos nós podemos fazê-lo facilmente. Gentileza gera gentileza. E prá quem não entendeu muito do filme, atente para as últimas falas do locutor, sobre o ser humano com telencefálo desenvolvido, polegar opositor, e também sobre a liberdade.
Pessoal qual a relação do filme com assuto consumismo
E nesse filme podemos ver o caso do consumismo
Obrigado pela sua ótima análise! O filme é um paradoxo entre, o racional e irracional.Contudo,desperta em cada indivíduo, pensamentos altruístas ,e que a sociedade acorde para os seus modelos esteriótipos.
Agradeço a minha professora Danielle por ter nos mostrado esse video ele fez agente lembrarmos que a vida humana esta descontrolada e cada vez mais desiquilibrada se continuar assim os nossos futuros serão ser catadores de lixo
arrebentamos ourruu
Já conhecia esse filme de alguns anos, mas devido a um trabalho tive de revê-lo e procurar resenhas para me auxiliar. A sua explanação é perfeita. Seu blog é muito bom! Só não entendi como permitiu os últimos comentários.
abçs...
pois é, Carlos, havia comentários deploráveis. acho que algum professor recomendou o blog aos alunos, que fizeram uma farra aqui. e como havia esquecido login e senha, não tive como sanear a sujeira por um bom tempo, mas acabei de remover os comentários mais "sem noção".
estou pensando em reativar o blog. o tempo está curto, mas vou tentar.
Gostaria de saber, por que foi colocado na introduçao "Deus não existe" ?
olá, eu estou com um trabalho escolar e tenho a seguinte duvida: por que podemos dizer que o video e ironico?
o filme mostra cenas do holocausto o que tudo quer dizer ?
Video completo: (Link: https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg)
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